terça-feira, agosto 11, 2020

 

Chegado o Verão, e um que teve a grotesca audácia de ser tudo menos silly, nem por isso o "Público" mandou dar baixa no que toca à programação pataqueira, e, portanto, lá na redacção alguém logo foi acometido pela graça e se lembrou: e se fôssemos ouvir os seres da bruma, os brutos, os bruxos...aquele!, onde se meteu, como era o nome...?, o seminarista doidivanas, que mandou deus ao diabo e numa noite de selvajaria luxuriante comeu três freiras e, para pôr uma cereja no topo, ainda foi ao rabo de um abade. Sim, o que andou pelos corredores do poder, ganhou confianças, preparou venenos lentíssimos e os deixou como brincos às senhoras, para que os cuspissem no ouvido dos amantes, quando estes apagassem de êxtase, sim, já devem ter adivinhado, estou a falar do maldito versejador, o das pedrinhas nos bolsos, uma por cada cabeça, apregoando que enquanto houver morte há esperança, essa figura que aparecia sempre ao fundo, nos pesadelos, a meio dos comícios, apavorando os do poder com as suas profecias cruentas, esse ser que faz contorcer a nossa imaginação deixando os seus botins enlameados na graciosa sala de refeições mantida fechada à espera de uma visita do príncipe. Quando foi que ouvimos pela última vez o Pedro Mexia? Por favor, mandem a Isabel Lucas, ela que o cative com os seus dotes de sacerdotisa do nhónhónhó, e vamos lá saber o que nos diz esse que nunca aparece. Só assim, e com que voltas!, que ficções por omissão, este banalíssimo literateco, este gestor de enfados, com a sua caixa de botões, de peças sobresselentes para relógios de bolso, pode fazer a fita de um ser "incomodado", alguém que tem até do que se queixar, este reitor da universidadezinha da bienséance, um chato que não tira a sua pose de avô precoce, com as suas recomendações de vitaminas, põe um casaquinho, cuidado não apanhes um resfriado, só assim passa por uma voz que, além das missas semanais, ainda tem alento para vir dizer coisas à margem seja do que for, adiantar uma porra qualquer, sugerir uma maldição, um veneno que nos salve das curas gerais. Mas é isto. O país vicia-se nestes generalistas dengosos, nestas falas mansas, aceita fazer de bancada para estes rabos e bochechas arfando o pó de talco das suas opiniões, e no tédio lá vai comendo a papa, enquanto a sua imaginação social emparvece, e acha que não há saída, aguenta a cantilena e ainda honra os que seguram esse registo, a nossa música das esferas, esse silêncio corrompido das coisas que estão lá como uma peçonha e já nem damos conta, tomamos como naturais, como achar-se que um intelectual possa ser isto, um gajo que se ocupa há décadas de tudo para mascarar o seu nada, uma trança de bocejos, que intervém naquele sentido em que, se os lugares estiverem todos ocupados, ninguém poderá queixar-se de que o leite está azedo, a dobrada veio fria, com o seu zumbido dolorento, o destas moscas que vão dando conta do pensamento e não deixam que se lhe oiça nem as interjeições.


 

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