quinta-feira, maio 28, 2020


Que canta a folhagem e o que te diz
que lembranças nessas coisas que fazes
ou tomas para teu eterno gozo
corpos que exaustos reformas
num sopro atravessados
enquanto a manhã engole a noite
encaroçada de estrelas
e que experiência dos gestos tu tens
como armam e desfloram
com que talento reviram em prazer
em sons invertidos, de tal modo que o tempo
a ti exibe a sua corpulência
amassando odores na terra ansiada
e quando nenhum sol deixava uma imagem
nenhum cadáver fresco ao seguinte
de que mundos eram feitas essas partes expostas
colheitas, frutos que se nos esmagavam
nos bolsos, de um corpo a outro
a linha com que inventas, mudas
o velho soneto, quebras-lhe os ossos
espalhas, cortas nele flores ainda sem nome
e nomes tão fundos que nos enterram
essa tinta que de tanta chuva
e do ruído das águas
do que se animou nas superfícies
do que se colhe nas redes do cansaço está viva
de como brincas sacudindo o lenço
das alusões antigas, comovendo o ar
espreitando os que se deitam no campo co'as moças
queixas e gritos, risos, tudo me lembra
o verso que te ouvi e o mais que te roubei
as sombras por que foste conhecida
antes de ir buscar-te a casa dos teus pais e depois
quando te enredava o cabelo nas molas da cama
eras nova, só usavas então uma máscara
cada dia viajávamos um pouco
estudando juntos pesando na língua
separando miudamente em notas
e havia ali embalo, música e que aspiração
os elementos, cabos tensos, cordas
tantos nós, tudo rouco dos temporais
e um navio na praia em destroços
inspirando um coro de pássaros.


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