quinta-feira, março 07, 2019

PIDE Piedade Marques


Eis uma tão curiosa quanto reveladora sequência de eventos facebookianos, desses que nos ajudam a expor as manobras pidescas por que procedem alguns dos tão exaltados defensores dos projecto e das figuras que vão furando o bloqueio:



Tu não queres ver que o polícia da moda editorial ficou beliscado com mais esta: ter visto o outro meter-se-lhe no camarim, puxar-lhe os vestidinhos das cruzetas num sacão, e assim, à bruta, deixando tudo num molhe, vejam só: o horror. Mas logo, de capa ao vento, surgiu a grande figura que faz justiça quando o populacho das letras clama Piedade! frente a esses bárbaros, meliantes, críticos e cronistas, com apoio dos chineses, das EDPês, sim, andam todos a encher-se, a ficar ricos, os safados (exige-se justiça) e eis que, gritando Piedade!, lá vem o Marques empurrando o Pedrito, e não há puto mais dono da sua indignação, ele adora gritar lobo por tudo e por nada - como há os casamenteiros, é o nosso funeraleiro (e o tédio que lhe dá quando nenhum vizinho morre de baralhar as linhas debaixo das lentes grossas...) -, mas desta feita o Pedrito encheu-se de pele de galinha e por quê?, veio a correr em defesa de quem? Ó pois, por saber que o outro se meteu aos tabefes na Assírio-salsicharia-Alfim, e, confundindo tudo, trouxe à baila o primeiro calhamaço digno de que se lembrou... Confundir, misturar tudo e voltar a dar é de resto o génio do nosso Pedrito, polícia da moda literata, e logo emborcou a sua latinha de espinafres, arregaçou as mangas, fez músculo ao espelho e lá se foi medir com o Guerreiro... Afinal, que audácia vem a ser essa de vir meter a faca nos vestidos engrinaldados da nossa mais saliente noiva cadáver, e pior, raios o partam, sem nem pedir consultoria ao Doutor Marques! Que rebaldaria vem a ser esta? E agora resta ao crítico ser exemplarmente sovado, levar com as sete pragas infames deste troca-tintas, e que grite Piedade!, a ver se este se apieda. 

P. S. Se tem um editor, livreiro ou coisa que o valha na família, à saída, é favor levantar o panfleto todo catita da Funerária Piedade Marques Ltd. Os melhores serviços na hora de despedir um morto de gafas, desses casos que hoje já não provocam dilúvios nas páginas da imprensa dita cultural. A Piedade Marques honra-se de oferecer o mais expedito serviço entre espetar com o defunto num caixão de cartolina (uma bela edição de capa dura), selar a coisa num instante, organizar o evento de homenagem, aclamação e chorume, logo seguido da devida marcha de protesto e indignação. Ainda providencia carta de pesar para distribuir pela paróquia e a carta de repúdio e repulsa a dirigir às redacções do país e às autoridades competentes e demais instituições do livro. Também oferece serviços de mumificação, e conta no seu staff com um designer que também faz uma perninha como taxidermista. E por uma pequena taxa adicional, também lhe redige um inesquecível necrológio. O próprio presidente da Piedade Marques ainda se oferece para oficiar a missa de sétimo dia em directo no Facebook.





Anda aí um PIDE travestido, falhou na época, chegou um nadinha tarde, mas, neste país, nunca se sabe a volta que a coisa não acaba dando, e se, num abrir e fechar de olhos, não voltamos a ter a pata deles em cima. O PIDE Piedade Marques é na verdade um nostálgico, bem se vê que anda com umas saudades da outra Senhora, e, para passar o tempo, tem a colecção completa dos cromos da resistência, como quem reconstrói a choldra a partir dos uivos, documentando-se junto dos presos, e é assim, como uma espécie de assistente social que vem tratar do registo para memória futura (ó futuro!) que se disfarça, e aparece aí como uma enfermeira de apito, nas reuniões de urgência, é a crise do livro, lá está ele, é uma livraria que fecha, não importa se já não tinha mais que cotão e jornais velhos, é um crime, e lá vem o agente tomar conta da ocorrência, pôr em linha a turba dos fleumáticos da indignação, e anda sempre a puxar pela manga, ó-tio-ó-tio, no género arrumador literato, destorce, a pedir um testemunho com selfie para o arquivo, de resto, tem um faro danado para cadáveres, se ele anda de volta é como ter uma mosca na cola, sinal de que a morte se embeiçou por nós. A dona Piedade é uma espécie de viúva promíscua, dá-lhe para andar pelos cemitérios a trocar as flores de umas campas para as outras, sempre à boleia de uns fantasmas, sempre a azucriná-los, e se abre a bocarra, entre os dentes, baralhando tudo na saliva, toda a frescura logo engarrafada naquele mau hálito de arquivista sonso, puxa sempre d’algum nome, enche o peito, toma balanço na saudosa memória inclinando-a para o lado que lhe der jeito... e isto seja o pobre do Dali de Lisboa, Fernando Ribeiro de Mello, que já não se livra de ser tido ou achado sem levar com este tipinho como polícia sinaleiro, seja o Abel Manta ou mais algum dos que se vai lembrando na convicção de que nos pode encher o saco com a nossa falta de lembrança... Há-de desenterrar ossadas nos fundos de bibliotecas para vir ele para as suas aventuras de capa e espada (aliás, osso, de osso em riste), qualquer desses raios mais talentosos no modo como afundavam as esporas na sua raiva, gente que tinha pelos mecanismos da Censura um terror intrínseco, porque lhes molestava a alma, e agora têm em comum este comichoso herdeiro presuntivo... lá vem ele com a malinha, os instrumentos de aparar o lápis (azul só pela graça), para catar-lhes umas receitas, deliciado com a história da insubordinação, fica ele como o legítimo e tudo mais são bastardos. A admiração já não pode passar sem ir à revista do PIDE Piedade Marques, ele que tem até um gabinete, desdobra-se nuns funcionários míopes através das redes, parece que sozinho gera uma multidão de tiranetes, em cada guiché, e já de olho na cátedra, aí anda ele, e diz que pica, tem umas grandes lentes, ninguém vai a lado nenhum, e nem sobe para o eléctrico nem desce do comboio sem o ter picando o bilhete, pois ele vai ser o Walt Disney do parque temático da edição refilona, dos sacanas mais ulcerados, os que melhor compunham o vómito em letra de forma, ou desenhavam destartarizando, descompondo tudo, uns tombos que lá os altos, os respeitáveis, suas senhorias, se afogavam espumando das bocas. Ora o Piedade só a tem no nome, é do mais rasteiro, mais mesquinho, de tal modo que vos seguirá entre os lugares mais recônditos da rede, terá espiões até nos vossos sonhos, e ai de vós, rapaziada, que se lembrem de pôr like num comentário ou num texto que o vise. Houve aí mais abaixo num post sobre Piedade-o-estripador um like (um cliquezinho só) feito por uma página de um grupo que se dedica a organizar acções culturais, pois bastou esse gesto mínimo de aprovação ao conteúdo da crítica (um infame ataque ad hominem no entender do agente Piedade) e logo levou a tal plataforma com uma inspecção, terminando a coisa com um relatório (leia-se: o Piedade foi chibar-se/ fazer queixinhas) enviado para tudo o que fossem entidades públicas que apoiam a tal plataforma. Aí está o exemplo como ele nos chega de cima. Eis um cavalheiro devastado na sua honra, que se exalta e exige que lhe seja feita justiça: desata a mandar emails, a ver como nos há-de entalar. Nem mais um tostão para aquela rapaziada! Chegou o bufo. Eis, na verdade, um energúmeno convencido da eficácia dos meios de pressão, repressão e silenciamento que conhece de fora adentro. Eis o PIDE trauliteiro que anda armado com os ossos dos “tios” para andar à bulha com os críticos e os cronistas que lhe mijam no lote, que teme lhe retirem protagonismo, o abafem, isto quando não se mete com a Porto Editora, só para disfarçar, pôr a dentadura e fingir que lhe deu uma súbita larica, de abalar daqui, elevar-se entre o pequename, e qual David, ir às fuças do Golias, dos grandes esquemas, ele, o agente que é, em si mesmo, um regime piramidal, uma instituição do “caluda que aqui quem fala sou eu”, apertando ao peito as flores dos marginais para vir depois naquele mimetismo dos bandalhos, ameaçar quem quer que o ponha em causa. Assim, ficam avisados. Temos um PIDE disfarçado de ovelha disfarçado de lobo disfarçado de ovelha… É cansativo sempre, e desgostante, mas ao menos vamos sabendo com o que contamos.

1 comentário:

Daniel disse...

Pessoalmente, acho que no que toca a fundações que advêm de empresas como a EDP, por muito que quem esteja à frente dela/ participe acredite no que faz, a credibilidade é nula. De raiz e pelas suas exacerbadas posturas empresariais, políticas na mais elementar fundamentação do termo, são mais ferramentas sócio-económicas do que apenas sociais como se dizem e intuem.

Digo mais, até porque vivo do fundo de desemprego. Se algo vai de errado com o estado, que maioritariamente serve os interesses de privados, de funcionários a grandes empresas (que sim, não são casos autómatos, vivem dos gestos de pessoas, do mesmo caldo cultural, e viva Nietzsche e a social-democracia como ela é!), dos mercados, algo tem que mudar, e claro que o comunismo, antes que se soltem molas ferrugentas, não é e nunca foi solução prática.

As cruzadas agora são outras, não ver que os bárbaros se opõem, procuram minimizar a sua participação, que os meliantes ou os dionisíacos, cínicos ou distraídos, são, pelo excesso, os cavalos de uma sociedade tão maldita e excessiva quanto o seu estilo, peito, heroísmo, frustração, revolta e figurão, é falhar redondamente a compreensão do presente, como sempre evolutivo e com conhecimento suficiente para se desvincular de problemáticas demasiado auto-centradas ou para ajeitar o espelho e substituir o seu próprio reflexo por uma perspectiva que não é mais que ângulo morto pronto a ser revelado - daí a importância da imaginação para olhar ao redor e ver o não-visto que já existia anteriormente, as coisas como são, os outros e o nosso umbigo.

Disse um banana em tempos que vivíamos acima das nossas possibilidades, sibilino pela metade, e eu digo necessidades. E pronto, chega. Antes que me atire também abaixo da janela, é mesmo verdade: isto anda tudo ligado.

Quanto aos chineses e aos figurinos da grande novela que tens vindo a coser e recozer nos últimos tempos, a grande trupe das letras, também se confirma, servem para exemplares: gostam de arroz e têm como todos eles os olhos em bico.