sábado, fevereiro 02, 2019




Nada como se ir, espelho meu espelho meu, beber um reflexo estuporado, desses bem medonhos, nas descrições do nosso chóninhas mais ordem do infante, ó mãe-olha-para-mim, essa bochecha de serviço às tiocas, e ser-se o protagonista de um desatino, da ocasional birra ou ira de gabinete, as faces tomadas de um tal rubor, alargando o nó da gravata, o comendador, que julga que está a ganhar o jogo, e que no movimento perpétuo de rotação e translação entre o comentário político, o passar em revista a actualidade, o ir à rádio dizer umas patacoadas que redundam no ralo das suas preferências sejam musicais seja a temperatura do copo de leite, ou a fazer a fita do cinéfilo e acabar debitando as histórias da carochinha, assinar a croniqueta azul, passar o recibo como recenseador de fim-de-semana, ainda roer as unhas e cuspi-las em verso, e está convencido de que ganha o jogo, aceitando os convites todos, gerindo a secretaria dos prémios pelos funcionários do mês da nossa McLiteratura, assessorando o stôr Marcelo no jogo de damas das costureiras, e ainda nos vem falar do Arlt, tudo o que ele desprezaria se vivo, mas já se lhe chega e acha óptimo na versão mito empalhado, seguro para consumo, e diz que não tinha ilusões sobre a mesquinhez do meio literário, esse meio do qual o pantufas garante que sempre que possível se esquiva, deve ser quando em vez dos salões da capital se isola na Figueira da Foz, e dá uma de Napoleão na ilha de Elba, garantindo que sempre foi um marginal, e nisto aproveita, como sempre, como a aranha, para tecer o recadinho, e fala desse que se fez crítico literário por rancor, "um crítico cáustico, arbitrário, terrorista, movido pela inveja, o azedume, o gosto da demolição"... E ainda estamos a falar do conto do Arlt? Estivemos alguma vez? Não, mosca. É a aranha, convencida de que está a ganhar e de que o outro, por irritação, atirou as peças ao chão. As peças, diz ele. E o chão?, perguntamos nós. Onde não há disfarces nem comendas que te valham, nem pílulas para aliviar das tremuras de todo esse sucesso. E no chão ainda te erguias? E se a literatura não fosse um jogo de damas, mas um clube de combate, tu vinhas?

Sem comentários: