Há também muita hipocrisia no ensino universitário. Muitas vezes, os docentes fingem saber coisas que, na verdade, não sabem, ou não sabem suficientemente bem e, portanto, o saber que se transmite é um saber genérico, pálido, anêmico, que não serve para muita coisa. Logo, no mundo atual, tem-se a impressão de que a única relação que se pode ter com a literatura é uma relação de estudo. Com o passar dos anos, sinto cada vez mais a necessidade de não ter uma relação de estudo com a literatura, mas sim uma relação mais livre, de leitura. Também a crítica está se convertendo cada vez mais em estudo da literatura. A grande crítica não era estudo da literatura, era também a história de um encontro entre um leitor, ou uma geração de leitores, e um conjunto de obras. Tinha-se necessidade, então, de instrumentos muito más dúcteis, que são os instrumentos da ensaística crítica. O estudo literário é, como dizia Mario Praz, um cortar o frango em vinte partes, sem nunca chegar a saber se o frango é comestível ou não. Ensina-se a seccionar a literatura, a fazer sua vivissecção de mil maneiras, porém não se ensina a ter um vínculo vivo com a literatura, porque os próprios docentes são frequentemente indiferentes ao valor literário, e a literatura, em suas próprias vidas, não significa muito.
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