Frames de uma filmagem feita por Edgar Pêra, em Maio de 2016, na Anchieta
Morreu Rui Martiniano, editor da Hiena, verdadeira imprensa da universidade dos danados, amante sério dos livros, inspiração para quantos respiram fundo na linha sustida pela tinta ardente de inauditos estados de nervos, essa paixão de se estar doente neste mundo, dos que arrancam a custo o fôlego que vive ainda entre cadernos que são a própria clandestinidade, o raio de acção de tudo o que, não acatando as ordens e os ritmos do inferno, se vira, morde, despedaça, e que na morte ainda assesta em tudo isso um último e devastador golpe... "morre... e vinga-te". Ainda ontem o viram andar pelos mesmos lugares, com aquela altura de homem talhado num menir, traços fundos e voz de se dirigir a um batalhão... teria dado muito que fazer se este fosse ainda um tempo em que se desfizessem os homens com armas honestas, mas morreu de uma pedra lançada sabe-se lá de onde. Os livros, as cartas trocadas entre trincheiras, ficam, e farão outros leitores, essa terrível minoria que, contra todas as probabilidades, recusa o veneno da esperança e nem por isso desmobiliza.
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