quinta-feira, dezembro 29, 2016

O vazio


Existe um vazio por morte dos sentidos
e pela perda do horizonte,
quando revês as tristezas sonolento,
e adormentado és alheio às alegrias.

Mas existe outro vazio.
E não há nada mais sagrado.
Tantos sons e brilhos contêm.
Profundidade e altura.

Compraz-me viver na Crimeia,
longe dos problemas,
num círculo tranquilo,
círculo de fluxos e refluxos.

Feliz de capturar
o brejo que se assemelha a fumo azulado,
e alegre da vida com a tua descrença
no muito que eu te amo.

Vou sozinho à montanha,
longe, a juntar pêras,
isso não me entristece, ou sim,
mas é uma tristeza suave.

Arranco com ávida timidez
uma baga de fruto rosada,
e já desliza pela minha garganta,
alongada e fresca.

Deito-me na cabana,
minha alma sente-se vazia,
apenas do pulso interior
se ouve o rumor da minha alma.

Oh, sobre toda a agitação
bendita seja a embriagante doçura
de um vazio claro e tranquilo
precursor do que se preenche.

- Yevgueni Yevtushenko 
(versão a partir de tradução de Natalia Litvinova)

Sem comentários: