quarta-feira, setembro 02, 2015


Já não basta oferecer um espaço digno, uma selecção abrangente ou criteriosa, vender livros com a naturalidade com que se vendem lâmpadas. Há que entretê-los, criar comunidades no facebook, lembrar todos os dias que ler transforma gente em indivíduos com um ar extremamente hum, e convidá-los para eventos, dar-lhes jantar, música, fazer as apresentações, oferecer preservativos ou, em alternativa, um ombro amigo para molharem no fim da noite. Não contem com leitores que não venham a desfiar pelo caminho, esqueçam a graça inquietante dos passageiros anónimos. Agora é preciso cativar um público identificado. Ou, em alternativa, formar uma cooperativa para recauchutar egos. O livro tornou-se um vale-cheque-prenda-rifa. Compre um livro e habilite-se a uma vida um nadinha mais vistosa. Venha ao lançamento, conheça o autor, os editores, beba um copo e partilhe essa opinião que está a pensar enfiar nalguma garrafa e atirar às correntes internáuticas. Ficar sozinho em casa é tão deprimente, traga a sua solidão para a rua, esfregue-a na dos outros para aquecer, até dar lume. Ou merda. Que se fodam as livrarias e venha a feira do livro o ano inteiro, com churros, aulas de aeróbica, jogos de futebol, lançamentos, imolações, cenas ao vivo, e uma vez por outra a gajinha doida no microfone a dizer que se vendeu um livro no pavilhão X...! Os autores a correr de doidos para oferecer um livro ao leitor. A puxar a manga: Leia, leia... Deus lhe pague.

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