sexta-feira, março 20, 2015



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Esclareço que não é minha intenção atacar este recital, ou pseudo-recital, de poesia, ou este em especial. De há alguns anos para cá, com a chegada de uma gente nova – que responde, aliás, ao rabo-leva de «novíssima» que está a dar na poesia última em data – que estes recitais (poesia lida) se sucedem com o agrado evidente de quem lê não lhes custa trabalho nenhum, é abrir o livro emprestado e zás, dar à língua e altear a dextra mantendo firme a canhota, e a admiração de quem escuta, que também não dá trabalho; é conservar a cadeira e voltar para casa incólume. Era minha intenção, sim, mas não sei se o faça já, se o faça já aqui, pedir às pessoas idóneas, mas, mais lato e mais forte, se possível, à em principio bela, magnífica juventude por conta da qual corre, na sua maior parte, a organização destas leituras, que se deixem disso, porque estão a ser enganados: por si próprios, pelo público e pela crítica.

- Mário Cesariny
«Saldos do Ano Acabado», Jornal de Letras e Artes, 29 de Janeiro de 1964

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