quinta-feira, janeiro 08, 2015


Ensinou-me a voar sobre a noite das palavras,
longe do aborrecimento dos navios ancorados.

Não é o glaciar que nos importa
mas o que o torna possível indefinidamente,
a sua verosimilhança solitária.

Liguei-me a ódios entusiásticos
que ajudei a vencer e depois abandonei.
(Basta fechar os olhos para já não se ser reconhecido.)
Retirei às coisas a ilusão
que causam para se protegerem de nós
e deixei-lhes a parte que nos concedem.
Vi que nunca haveria mulher para mim
na MINHA cidade.
O frenesim das pândegas,
simbolicamente,
justificaria a minha boa vontade.

Atravessei deste modo a idade da solidão
até à morada seguinte d’o HOMEM VIOLETA.

Mas ele só dispunha do triste estado civil das suas prisões,
da sua experiência muda de perseguido
e nós,
nós só tínhamos a sua descrição de evadido.


- René Char
(tradução de Y. K. Centeno)


retirado daqui

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