quarta-feira, fevereiro 05, 2014


O WALT WHITMAN LIGOU HOJE
para o Jack Foley


O Walt Whitman deixou-me hoje uma mensagem no atendedor de chamadas.
Ligou de longe. Achei-o íntimo, arrebatador....
Tinha uma voz vibrante, sensual, cheia de ternura,
Robusta de idade, ainda poderosa, ainda uma força da natureza:
Centro de filhas idênticas, de filhos idênticos,
Todos, todos por igual estimados, crescidos, não crescidos, novos ou velhos,
Fortes, avantajados, belos, persistentes, capazes, ricos,
Perenes com a Terra, com a Liberdade, a Lei e o Amor.
Antigo artefacto de cera, solitária amostra de voz eterna,
Primevo, imperfeito, riscado fundo de um ruído afogado,
Ribombantes ondas de som a rebentar sobre as suas palavras,
Como interferências dos mares do Tempo, assombrações das profundezas místicas do Espírito,
Erguendo-se e encapelando-se, sílabas a chapinhar, embalando o Espaço,
Chegando das oitocentistas praias de Jersey até mim.
Já lá vão várias décadas desde a primeira vez que li as tuas folhas, caro Walt
(Um rapaz de dezasseis anos, a balouçar-se e a rebolar no teu berço de erva),
Um século após a tua morte estás a recitar no meu quarto,
A partir do cilindro de cera de Edison, quatro versos que restam,
Miraculosamente preservados, descobertos, difundidos pela rádio
Há quarenta anos, gravados e depois derretidos!
Aqui guardado em cassete, posta no meu atendedor de chamadas
(Oh, maravilhoso sotaque de Brooklyn o teu, igual ao meu!),
Próximo, familiar, por fim de carne e osso, a tua mensagem recebida
E respondida à letra, em inspiração do amor comunitário,
Antes de também eu ser reciclado na Eternidade.


- Harold Norse
(tradução de Vasco Gato)

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