quarta-feira, dezembro 11, 2013

Raquel


Raquel, o que te passou
pela cabeça? Talvez
uma dessas canções agarotadas, tralará,
ou quem sabe algo que não disseste a tempo
e de que agora já não te lembras.
Coisas que nos põem tristes. A tristeza,
a Puta,
prendeu-se-te às bochechas
como uma aranha.

Eu prefiro pensar em ti dançando,
na minha casa, não se faz muito disso, e asseguro-te
que o teu sorriso era o mais bonito da terra.
Parecias uma taça ou uma fruta
às quais se chega lentamente a mão:
algo para se apreender na memória.
E, contudo, aquele não era o teu lugar, hoje sei-o,
na desgraçada felicidade dos que dão tudo e nunca fazem perguntas.
Raquel, eras um anjo que fodia e bailava e bebia cerveja,
mas os homens nunca
te trataram muito bem.

Lambe essas feridas, querida, pega-me no telefone.
O veneno do mundo molhou-te os lábios.
Sê realista.
Todos os homens te desejam mas
que flores tão estranhas, não é verdade?

Tu e eu sabemos três ou quatro coisas
que dão para viver
e nunca cometemos o erro de nos encostarmos.
Raquel, deixa-te estar quieta entre as flores
e tenta ser feliz. Aquilo que todos fazem.


- José Luis Piquero
in El fin de semana perdido, DVD

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