quarta-feira, dezembro 11, 2013

Alicia já não vive aqui


Procura-se Alicia. Descrição:
corpo pequeno, tetas como meninos adormecidos.
No seu cu aninhava-se a nossa felicidade
e na sua cabeça tudo o que está errado.

É procurada. Não sei o que é mais cruel:
se os seus olhos fechados na grande madrugada das canções,
se seu colo, polpa democrática sobre a qual ofegam
– arf arf – cães e velhos.

Doce Alicia: amiúde cabralouca.
Mas eu desejei-a, oiçam-me, e ela a mim um pouco menos.
Levava-me perdido da cabeça pelo passeio, como
uma nanny perversa a um miúdo luxurioso,
e eu feliz, feliz.

A vil colegial atirou com os livros
e saiu a correr. Deus, como corria!
No que depender de mim nunca a apanharão.

Alicia, em ti deixei as minhas impressões digitais:
ponham-me as algemas! O guarda
ficou louco e ela ri, ri.
À tua saúde qualquer um se embebeda pelo menos uma vez,
e por isso que não sejas boa não faz qualquer diferença.

Procura-se Alicia. Descrição:
a curva das suas costas um vidro embaçado,
pernas que têm manha para oprimir o mundo assim e assim.
Seu preço, o que tiveres
nos bolsos.


- José Luis Piquero
in El fin de semana perdido, DVD

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