quinta-feira, outubro 10, 2013


Dá-me a noite que não intercede,
a noite migratória com signos de cegonha,
com o guindaste celeste e seu alamar guerreiro,
palafrém da onda de escuridão.
Dá-me o teu parentesco com uma sombra de ouro,
dá-me o mármore e o seu perfil
leve e elegante,
como de estrofe antiga.

Dá-me minhas mãos degoladas pela noite que não intercede,
palafrém das mais altas marés,
minhas mãos degoladas entre as grandes emboscadas e as chamas lunares,
minhas mãos migratórias no céu de agosto.

Dá-me minhas mãos degoladas pelo antigo ofício da infância,
minhas mãos que rasgaram o pescoço da noite,
o lampejo do sonho com metáforas verdes,
o vinho brasonado que caiu num sono profundo.

Amor dos incêndios e da perfeição,
amor entre a graça e o crime,
como meio copo e meia vinha branca,
como veia furtiva de pombo:
sangue de antigo animal que perfuma
as fechaduras da morte.

- Blanca Andreu
in De una niña de provincias que se vino a vivir en un Chagall

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