sexta-feira, setembro 13, 2013

«Je ne sais pas, Monsieur. Je m’excuse»


Samuel Beckett no quarto 604 do Hyde Park Hotel, Londres, 1980. Fotografia de John Minihan.

[Disse o senhor Prudente
quando interrogado sobre o motivo
que o levara a esfaquear
o poeta Samuel Beckett.]

Um acto
é como o abutre
circulando dentro,
no crânio do autor
que se esvai
na luz céu cinza,
o único túmulo.

Nada sabemos.
Estamos sós.
Sobre uma lâmina
abate-se
um corpo,
um peso,
um peso morto.

O abutre habita o oco.
não há saída, apenas
convulsões da luz
e depois escuridão,
noite sem asas.

Um acto só pode ser
revisitado
pela treva
que o precipita
na treva.

- Luís Quintais
(retirado daqui)

Sem comentários: