sexta-feira, agosto 16, 2013

16.


Tudo diz que sim.
Sim do céu, o azul,
e sim, o azul do mar,
mares, céus, azuis
com espumas e brisas,
monossílabos jubilantes
repetem-se sem parar.
Um sim responde sim
a outro sim. Grandes diálogos
repetidos ouvem-se
por sobre o mar
de mundo a mundo: sim.
Lêem-se pelo ar
largos sins, relâmpagos
de penas de cegonha,
tão de neve que caem,
floco a floco, cobrindo
a terra de um enorme,
branco, sim. É o grande dia.
Podemos aproximar-nos
hoje do que não fala:
da pena, do amor,
do osso atrás do rosto:
são escravos do sim.
É a solitária palavra
que hoje lhes concede o mundo.
Alma, pronta, a pedir,
a aproveitar a máxima
loucura momentânea,
a pedir essas coisas
impossíveis, pedidas,
caladas, tantas vezes,
tanto tempo, e que hoje
pediremos aos gritos.
Confiantes por um dia
– hoje, nada mais que hoje –
de que os "não" eram falsos,
aparências, atrasos,
expressões inocentes.
E que estava por trás,
vagarosamente, amadurecendo,
ao compasso desta ânsia
que o pedia em vão,
a grande delícia: o sim.

- Pedro Salinas
in La voz a ti debida

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