Da alma trémula e excomungada
puritanas vozes falaram já,
deixando para mim teu corpo
de aluguer.
Que dizer sobre teus saudosos olhos,
teus finos dedos, gentis modos de durar
o prazer e a dor.
Horas breves, no retrato difuso
da tarde que trazes na carteira
entreaberta na mesa junto à janela
fronteira à praça em obras.
Juntos procuramos um sapato
escondido sob o teu vestido.
Juntos fizemos um último
brinde a quem nos esquecia.
E saí sozinho para a rua.
Da primeira vez ofereci-te
o braço ao sair do elevador,
entrámos no café e soube-te
o nome, fictício ou real,
pouco importa.
Um nome é sempre a posse
de algo que nunca nos pertenceu.
- Jorge Gomes Miranda
in Postos de Escuta, Presença
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