terça-feira, julho 16, 2013

6.


Medo. De ti. Querer-te
é o risco mais sério.
Múltiplos, tu e tua vida.
Tenho-te, à de hoje;
já a conheço, entro
por labirintos, fáceis
graças a ti, à tua mão.
E meus, agora, sim.
Mas tu és
tu própria mais além,
como a luz e o mundo:
dias, noites, estios,
invernos sucedendo-se.
Fatalmente, mudas-te
sem deixares de ser tu,
em tua própria mudança,
com a fidelidade
constante de mudar.
Digo: poderei eu viver
nesses outros climas,
ou futuros, ou luzes
que estás a elaborar,
como o seu sumo o fruto,
para o teu amanhã?
Ou serei apenas algo
que nasceu para um dia
teu (meu dia eterno),
para uma primavera
(em mim sempre florida),
sem poder viver já
quando cheguem
sucessivas em ti,
inevitavelmente,
as forças e os ventos
novos, os outros lumes,
que esperam já o momento
de ser, em ti, tua vida?

- Pedro Salinas
in La voz a ti debida

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