segunda-feira, julho 22, 2013

12.


Eu não preciso de tempo
para saber como és:
conhecer-se é o relâmpago.
Quem vai conhecer-te a ti
no que calas, ou nessas
palavras com que o calas?
O que te busque na vida
que vais vivendo, não sabe
mais que alusões de ti,
pretextos onde te escondes.
Ir seguindo-te até lá atrás
no que tu fizeste, antes,
somar acção com sorriso,
anos com nomes, será
ir perdendo-te. Eu não.
Conheci-te na tormenta.
Conheci-te, repentina,
nesse desgarramento
brutal de treva e luz,
em que se revela o fundo
que escapa ao dia e à noite.
Vi-te, viste-me, e agora,
despida já do equívoco,
da história, do passado,
tu, amazona na centelha,
palpitante de recém
chegada sem esperar-te,
és tão antigamente minha,
conheço-te de há tanto tempo,
que no teu amor fecho os olhos,
e caminho sem errar,
às cegas, sem pedir nada
a essa luz lenta e segura
com que se distinguem letras
e formas e se fazem contas
e se crê que se vê
quem tu és, minha invisível.

- Pedro Salinas
in La voz a ti debida

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