domingo, junho 02, 2013

O preço da moral


O maior problema das crises económicas é serem sempre o princípio de uma crise moral. A razão é muito simples: a moral é cara e sustentá-la tende a ser considerado desperdício. O florescimento dos regimes totalitários na Europa dos anos trinta é um caso exemplar desta dissolução da moral na economia. O nazismo é antes de mais uma ideologização económica, só depois racial e expansionista.
A discriminação dos judeus, mas também dos ciganos, negros, homossexuais, alcoólicos, deficientes, e todos os considerados ruinosos para o desenvolvimento do bem comum, resulta da aplicação rigorosa de uma ideologia económica. Por isso o extermínio se constitui como indústria, não como crime.
A verdade é que não há saída do animal humano. Quando a escassez o cerca, a sobrevivência manda. E a sobrevivência enquanto acto estritamente económico é o contrário da existência humana no horizonte que ela abre de um sentido para lá da sobrevida. E é isto que está em perigo: a possibilidade de uma existência humana. O último luxo de que podemos abdicar, pois se nos perdemos dele, perdemo-nos de nós.

- Jorge Roque
in Cão Celeste, nº3

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