sábado, maio 11, 2013


Sossego de ancas lavradas
Rebite a chapas imóveis,
Um pouco de tinta em tudo,
A terra é água num bolbo,
Com cor a lama é veludo.

Fuma o horizonte
E a vida é este hálito frio a ferro e queijo,
Esta saudade de pau com passos dentro:
Quem é daqui não a tem,
O estranho a leva num fuso,
E logo sai a teia e o linho
E a dor e o uso.

Com barcos, eis a Terra Baixa de outros,
A cave dos peixes;
Mas, com o que trago dela, transplanto-a
E, para que não me deixes,
Canto-a,
E a minha Holanda é toda entulho, entulho...

Ó pobre coração atamancado,
Fazes tanto barulho!

3.2.1963

- Vitorino Nemésio
in Andamento Holandês e Poemas Graves

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