quinta-feira, maio 02, 2013

Quanto mais claro o vinho


Quanto mais claro o vinho      mais fácil se torna beber dois copos
Quanto mais fina a capa      mais fácil se torna dobrá-la
A beleza e a fealdade opõem-se     o vinho as assemelha
À mulher honrada e à concubina     a velhice as iguala
Escuta o meu conselho: esconde-te se queres ser tu mesmo
Evita a Sala Imperial das Audiências     a Câmara de Leste
A poeira do tempo     o vento da Garganta do Norte
Cem anos são muitos anos     mas também eles se esgotam
Que importa ser um cadáver rico ou um cadáver pobre
Jóias de pérola e jade na boca dos mortos ilustres
Dentro de mil anos serão mais ricos os ladrões de sepulturas
A poesia é a única recompensa do poeta
É a poesia que enfada o ignorante ávido de honras
O justo é o pior inimigo de si mesmo
e o vinho a melhor recompensa do mérito
Bem e Mal     Tristeza e Alegria: rostos do vazio

- Su Dong Po, China, séc. XI d.C.
(tradução de Jorge Sousa Braga)
in O vinho e as rosas, Assírio & Alvim

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