terça-feira, maio 28, 2013


Solo de trompete nos lábios de um anjo negro,
som nenhum mas a sombra de um beijo nos lábios,
e o frio das manhãs cansadas, abertas como os livros
de ontem ali, de barriga para cima, lidos, ressonando;

teu corpo de ecos pela casa: minha bebedeira
desatando a memória. Começar sem querer
pela cabeça miúda que dói devagar
como a noite ao abrir-se em roseiras
de lume, espinhos no perfume
que mais dói ao sangue. A mão toda aberta
num beijo que te conhece e busca esse corpo
de ecos futuros. Quero começar onde o
fim não tem sentido, com a minha pequena
canção que de volta de ti fica como o gato
e te pede a mão, calor, riso e dança.

Hoje não apetece escrever, apetece apenas
ler os teus poetas até a tristeza virar náusea,
trocar as voltas ao mundo, esconder
a chave e não voltar a entrar em casa,

mas ir só pelos lugares comuns que tornam
as ruas antigas, recolher lixo nos bolsos,
tocar às campainhas e pedir mil vezes
desculpa até que, por fim, sejas tu a abrir.

1 comentário:

io disse...

Que bonito