quarta-feira, maio 29, 2013


Morre-se aqui de insónia. E fica-se doente
com as más digestões, que nos deixam o estômago
em acidez ardendo... Onde encontrar um sítio
propício para o sono? É que só os mais ricos
poderão afinal dormir nesta cidade.
E é isto que nos mata. E que dizer do aperto
p’los carros provocados em as ruas estreitas,
do rebanho ruidoso e que não mais avança,
capazes de acordar mesmo aqueles que sofrem
da doença do sono? Apenas quem é rico
é que pode sem custo, em liteira fechada,
aí ler, e escrever, e dormir à vontade,
chegar aonde quer antes de toda a gente...
Nós, que vamos a pé, temos que suportar
a torrente de quem caminha à nossa frente
e a torrente de quem nos empurra p’las costas:
aqui, um cotovelo; ali, uma fasquia;
este me dá c’um pau, aquele com um vaso;
e tenho as pernas já salpicadas de lama;
e ora esmagado o pé por uma sapatorra,
ora fendido o pé p’lo ferro de um soldado!

- Juvenal
(tradução de David Mourão-Ferreira)
in Vozes da Poesia Europeia I, Colóquio Letras

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