quinta-feira, abril 11, 2013

Guerras de gosto


Folheando revistas como Ler, ou seguindo polémicas como a que contrapõe Eugénio Lisboa a Fernando Venâncio nas páginas do JL, ficamos à vezes com a sensação de que as «guerras de gosto» se mantêm ainda vivas: quantas vezes não gastamos o melhor do nosso latim a tentar demonstrar que se alguém elogia o autor A faria melhor em elogiar o autor B, que tem sido, para utilizarmos a forma consagrada e mesmo extenuada, «injustamente esquecido». Acontece que ninguém pode ter a pretensão de escrever sobre todos os livros, como se estivesse no lugar justiceiro de um Deus absoluto. Quem escreve nos jornais tem «os seus autores» e faz o possível por convencer os outros, utilizando os meios retóricos de que dispõe, de que esses autores merecem um esforço de leitura. Quem acha que outros são injustamente esquecidos só tem que pegar activamente na pena para os lembrar, e não andar a puxar a aba do parceiro. Evitemos aqueles truques rasteiros de adolescência retardada com que se pretende convencer o auditório, ao sabre e à cotovelada, de que (é apenas um exemplo) «quem não elogia Adília Lopes não é bom chefe de família» ou é tão burguês que receia uns bons palavrões na sopa. Há boas razões para gostar de Adília Lopes, há também boas razões para achar que aquela desmistificação do lirismo sentimental foi chão que deu antiquíssimas uvas – o que não vale a pena é chatearmo-nos uns aos outros por causas tão pífias.

- Eduardo Prado Coelho
 

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