segunda-feira, abril 01, 2013

Caixa dos Silêncios


vejo os que passam em ligeiro contre-plongée, os chinelos e as botas primeiro, depois os sacos da loja dos sinos. nos bonés, nas roupas despontam palavras mágicas que vertem um sumo ácido e monótono, como os cânticos da igreja grega da rua georges bizet. na mesa ao lado, as bocas das raparigas ardem em monólogos de suor e de cama, no regresso das praias africanas. restam as notas que se tomam ao ritmo interno deste verão, composto difuso de sensações, as mais nostálgicas surgindo aos fins de tarde, ao passo dos eslavos que estão tristes e cantam, arrecadam segredos nos sacos de lona, abrem a caixa dos silêncios à lua do desterro. cedo aprendem que entre nós a medida-padrão é o sonho acordado, feito de uivos ensandecidos de sirenes, rubores cerimoniais de crepúsculo e seringas semeando de brilhos a erva rala.

- António Ferreira
 Por Negras Veredas, na Luz dos Caminhos , Quasi

Sem comentários: