Da varanda, o cerro de oliveiras desce
a curva da muralha
num castanho desbotado de Arraiolos. Ao rés
da casa, azinheiras despertam na superfície da
terra, raízes, emaranhado de seiva
o guizalhar do gado no pastoreio, além
e depois Pavia - na distância, hei-de voltar
voo poisado
neste irrepetível instante
de negra e branca pêga. No seu palrar quebrado
está a dizer-me: Identificas Portugal
com qualquer sombra de rosto, folha caída,
desfazer de onda. Nem sequer pensas
no pouco exacto que és - coisa alguma, já
ninguém é Portugal.
Agora
desceu a noite
na cor da pedra
sob a lua nova de julho
inerte
o redondo castelo
não há nada a dizer
quando se vai directo
à porta da traição.
- João Miguel Fernandes Jorge
in O Próximo Outono, Relógio D'Água
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