segunda-feira, março 25, 2013


Não é que se me tenha fugido: nunca chegou a estar.
Porém buscar e não reconhecê-lo,
e não vislumbrá-lo num futuro vivo...
Como deixarei apenas este momento?
Ninguém aqui vê e sucedem-se as chamadas
e é necessário que dele se retire
a forma, para que novamente se forme
como na refrega com as suas voltas o vento.
Como na refrega com as suas voltas. Não,
não é que se tenha perdido na renovação
súbita dos olmos nem nâ ânsia
branca igual à medula do freixo.
Ontem batia por si mesmo o campo.
Hoje faz-lhe falta a videira de outro mistério,
do pé que despreza a uva ainda que tenha pisado
fortemente a cepa. Hoje. Que longe fica,
que confiança nos redis. Se por um lado
não saberei falar do que amo,
sei a vida que tem e isso é tudo.
Talvez o arroio não aumente a sua calma
por muitas nuvens que lhe aquietem o sono;
talvez o manancial sinta as alturas
da montanha do seu profundo leito.
Como te imolarei mais além, firme
escultura a partir do estuque da lembrança?
Oh, mais além do ar e da noite
(A cristaleira azul, a cristaleira
da manhã!), por entre a própria morte
que descobre em nós um caminhar sereno
vá em direcção ao passado ou ao futuro o trilho,
vá o caminho para o mar ou para baixo do solo.

- Claudio Rodríguez

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