quarta-feira, fevereiro 27, 2013


As imagens, uma que as centra
em rotação planetária, apagam-se
e sobem a um lugar pelos seus impulsos
onde ao surgirem de novo tomam forma.
Por isso não sei quais são estas.
Pergunto que sol, que rebento de folha
ou que confiança na queda
alcançam a verdade, se mais próximo
está o ramo de nogueira que o de olmo,
mais a nuvem azulada que a vermelha.
Quem sabe se, povo de chamas, as imagens
acendem dois corpos sobre duas sombras.
Quem sabe um dia se tornem uma e isso baste.
Oh, coração majestoso como canoura,
sempre a classificar e triturar
os grãos, as sementes da minha breve
felicidade! Poderiam substituir-me
a partir dali, do céu àquilo que me rodeia,
até me deixarem morto à força de almas,
à força de vidas mais fortes que outras
com a preponderância do seu fogo
extinguindo-as: tal como ao pombo
as garras da águia. Mistério.
Há demasiadas coisas infinitas.
Para que me culpe há demasiadas coisas.
Ainda que o álcool eléctrico do trovão,
ainda que o mês que faz ninho e não pousa,
ainda que o outono, sim, ainda que o relento
de humidade branca... Vens pela tua solitária
rua-imagem, e, apesar de passar sobre
não sei que Criador, que paz remota...

- Claudio Rodríguez

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