terça-feira, maio 01, 2012

Túmulo de Amir Khusrú

A Margarita e Antonio González de León

Árvores carregadas de pássaros
sustêm a pulso a tarde.
Arcos e pátios. Entre muros
encarnados, a peçonha verde, um tanque.
Um corredor dá para o santuário:
mendigos, flores, lepra, mármores.

Túmulos, dois nomes, as suas graças:
Nizam uddin, teólogo andante,
Amir Khusrú, grande tagarela.
O santo e o poeta. Grave,
um luzeiro irrompe de uma cúpula.
O lodo emerge do tanque.

Amir Khusrú, tordo ou papagaio:
cada minuto dividido em dois,
a pena turva, a voz diáfana.
Sílabas, incêndios errantes,
arquitecturas vagabundas:
todo o poema é tempo e arde.

- Octavio Paz
in Piedra y Sol, Visor

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