terça-feira, abril 03, 2012

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Sobra-nos o poço e uma sombra de resedas
sob o véu de névoa baixa, nó de lume
diluído num espelho: onde trocam as goteiras
o seu soro imperceptível e a saliva

Salta, entre os dentes, a talha desta chuva
ameaçada, a poeira de levante nos buracos

Alguém aclare as águas mortas sob as pálpebras
e aceda, enquanto a luz não sobe,
ao brilho do meu sangue no teu copo,
à erva acesa

«Não me pertencem» as gemas da resina
que ateaste, as goteiras são incertas e demoram:
na maré estancada,
sonhas o que voga à tua volta enquanto dormes

- Luis Manuel Gaspar
«Aguaçais» (1991-92)
in Pandora, Averno

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