sábado, abril 07, 2012

Os olhos secos

Não chego a ser um gemido entre o choro geral,
olhos enxutos, mãos no bolso, a displicência.

Vejo o baile nas janelas acesas.
Quanta alegria nos homens sem memória!

Outras janelas, o caixão, as velas no silêncio.
As cortinas como almas libertadas,
a lágrima da mãe no lenço preto.
Os meus passos doem, cantando na calçada.
As estrelas quietas ruminando as horas,
mas meus olhos aflitos e ninguém percebe.

O nó na garganta, o grito parado,
a brasa na cinza...

- Bueno de Rivera
in A Nova Poesia Brasileira, Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil em Lisboa, 1960

Sem comentários: