sábado, abril 07, 2012

Elegia dançante

O nascimento do poeta é um salto do invisível
E tudo se movimenta ao seu ritmo de estrela e de nuvem.
Silenciar ao tumulto da vida cotidiana,
Segredam os deuses da Eternidade... Aos poucos
O infinito adeja em mim como as asas do morcego
Sob o sol, e triste e escura amanhece a solidão ― palavra ardente
Com a presença de Deus sobre a vida, esse murmúrio de sono.
Caminhando sobre as rudes pedras da aflição,
Nascem na alma as folhas nostálgicas da amada
Que sozinha sombreia de esperança e luz as lágrimas
Da amargura. Oh, como réstias de azul iluminam de saudade
Os cabelos, os olhos, as mãos! Onde a amada que se materializa.
Em música, para dançar com a harpa do meu corpo
A palavra que assombra de trevas o meu bosque de sonhos?
Sim, a vida é um vôo de finitos e infinitos!
E rugem luas de pavor, gritam túmulos solitários,
Cercam-me teias de cabelos outonais! E onde, onde repousar,
Senão sobre o tempo em que eu era a criança sem destino?
Fecham-se em mim as asas do morcego e o sol sangra de melancolia
O meu contínuo morrer dançante!

- Cyro Pimentel
in A Nova Poesia Brasileira, Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil em Lisboa, 1960

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