ela escreve no diário
notas sobre Roma e Nápoles.
A tinta deixa marcas como afídios partenogenéticos,
páginas como manchas de sangue
de pombos-correios.
Ela está só, grisalha, reconciliada,
como Leda muito depois da partida do cisne,
Ulisses no retiro do país dos Lotófagos.
De volta a casa, no Maryland,
o caderno será sepultado
na arquetípica gaveta,
por entre cartas de amor amarelecidas,
infantis madeixas de cabelo,
entre folhas secas de adulto,
junto à almofada onde sonha o gato castrado
enquanto o Para sempre, para sempre,
para sempre de Mahler se engasga no papel de parede verde.
É a mensagem dela para imaginários filhinhos;
é a sua pertença ao clube
de Swifts, Goethes, Rimbauds, Horácios e
__________________escaravelhos.
É o seu monumento mais duradouro do que o bronze,
realidade a cinco dimensões, a última gravação
do homem primevo em osso de rena,
a última gota
da alma fluida
antes de se evaporar.
- Mirolav Holub
(tradução de Hugo Pinto Santos)
in Poetry (Abril de 2008), tradução inglesa de Rebekah Bloyd
Sem comentários:
Enviar um comentário