quarta-feira, abril 18, 2012

Escrita Criativa

No expresso para Viena
ela escreve no diário
notas sobre Roma e Nápoles.

A tinta deixa marcas como afídios partenogenéticos,
páginas como manchas de sangue
de pombos-correios.

Ela está só, grisalha, reconciliada,
como Leda muito depois da partida do cisne,
Ulisses no retiro do país dos Lotófagos.

De volta a casa, no Maryland,
o caderno será sepultado
na arquetípica gaveta,

por entre cartas de amor amarelecidas,
infantis madeixas de cabelo,
entre folhas secas de adulto,

junto à almofada onde sonha o gato castrado
enquanto o Para sempre, para sempre,
para sempre de Mahler se engasga no papel de parede verde.

É a mensagem dela para imaginários filhinhos;
é a sua pertença ao clube
de Swifts, Goethes, Rimbauds, Horácios e
__________________escaravelhos.

É o seu monumento mais duradouro do que o bronze,
realidade a cinco dimensões, a última gravação
do homem primevo em osso de rena,

a última gota
da alma fluida
antes de se evaporar.

- Mirolav Holub
(tradução de Hugo Pinto Santos)
in Poetry (Abril de 2008), tradução inglesa de Rebekah Bloyd

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