UM COPO DE ÁGUA PARA A MÃE DE JUAN ALCAIDE
Recordo-te guardando silêncio entre mulheres
enquanto o teu Juan, já hóspede do caixão,
aguardava as pontes da terra.
Eu não o quis ver porque me dava medo.
Não porque estremeça diante da morte
ou porque um morto me cause espanto,
mas porque era Juan com a sua calva e o seu rosto
e com seus lábios gordos e suas mãos gelando.
Então deu-me medo de estar em Valdepeñas,
de ter chegado no comboio da manhã
e ter bebido vinho antes de te ver.
Porque tu estavas, pálida, num banco,
sem pronunciar uma palavra
e com um semblante alheado.
Não sabias
se estavas em tua casa, se de longe
vias o seu telhado, agora negro.
Transitava a gente pelo pátio,
e tu, então, pensavas
em camisas engomadas e em lenços;
em perfumes de flor e de madeiras,
e nada sobre a morte e a sua instância.
Próximo estava o teu filho:
forças tinham outros para o erguer.
- Ángel Crespo
(tradução de J.E. Simões)
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