segunda-feira, janeiro 16, 2012

Ian Pindar (1970)

CINZAS


são corpos disfarçados
misturam suspiros com
lágrimas num jardim perdido.

Um ar de importância
permeia estes
cosmonautas de
adubo,

que a pompa de céu e estrelas
ignora.

Parvos dos homens
que habitam corpos como
metáforas.




ESTUDO DE UM CORPO


Despido numa cama, o sexo numa sombra,
homem ou mulher, não importa.

Qualquer coisa naquele peito enjaulado, cativo, em pousio,
um cheiro a lençóis por lavar.

Um escuro para lá de tudo.
Nada visível, salvo

membros que se voltam, buscam descanso,
braços e pernas dobram-se, desdobram,

como um fantoche vigia as articulações.
A cabeça que mexe de lado a lado,

como socada por punhos invisíveis,
de ângulos diferentes, de dentro.




A VESPA E A ORQUÍDEA


«…a forma de vespa da orquídea, a forma de orquídea da vespa».

Um milhar de palcos
escondem o seu único
terrível testículo.
Debaixo da terra, ergue-se,
venusiana, imodesta
floração, olhos e tudo,
antenas e asas,
o proeminente labelo
(«coberto de longos pêlos,
lustrosos e avermelhados»)
«semelhante, na cor e estrutura,
ao abdómen da vespa
fêmea». Até
cheira ao mesmo: «um odor
floral que imita
a feromona sexual».

Sugado pelo
contrabando do seu engodo,
tenta a cópula
(mais propriamente, ‘pseudo-
cópula’) – monta
o labelo «com
vigorosos adejos das
asas e incisões
abdominais», «o trato
genital na ponta
do abdómen parcialmente
aberto». A vespa é
parte do aparelho
reprodutor da orquídea.
A vespa é uma orquídea.
A orquídea é uma vespa.
...

Depois de arrancada
a rosa, fica-se, filamentos de pólen
na cabeça, antes de voar
até à falsa fêmea que se segue.


in Emporium, Carcanet, Manchester, 2011
(TRADUÇÃO DE HUGO PINTO SANTOS)

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