AMOUR FOU
Os reis enamoram-se das suas filhas mais novas.
Decidem-no um dia, enquanto os cortesãos
discutem sobre o rito de alguma cerimónia
esquecida, que deve regressar do esquecimento.
Os reis enamoram-se das suas filhas, amam-nas
com correias de gelo, possessivos, ferozes,
obscenos e terríveis, agonizantes, loucos.
Para que ninguém possa desposá-las, apresentam
enigmas insolúveis a todos os pretendentes
que sonhem pedir a mão das princesas. Nunca
se viram tantos príncipes degolados em vão.
Os reis aniquilam-se com as suas filhas mais novas,
rasgam-se, destroçam-se noite após noite na cama.
De dia, elas afastam-se nas embarcações do sonho
e eles ditam as leis, solenes e sombrios.
- Luis Alberto de Cuenca
in Poesía (1979-1996), Visor
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