domingo, dezembro 04, 2011

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Não é a catástrofe
que, como luz difusa, se estende
sobre a espera, sem ocaso.
(Há um instante em que percebes,
com sentidos que nunca julgaste
teus, a vibração
de uma corda estendida
de sol a sol,
uma corda que vibra
sem movimento, e é
dele o próprio temor.)
Mas também
não é essa corda
nem a sua sombra na água.

Também não é o sabor,
frutado ou obsceno, do instante
em que abres a janela e já é de noite
e tu nem suspeitavas
dessa brisa que te despenteia.
Nem é a lonjura de um amor
que não queres medir
para o alimentares em segredo.

(Às vezes, depois de arrancarmos
uma flor, a boca sabe-nos
a sangue; depois de darmos
o mais inocente dos nossos passos,
eleva-se um olor de vingança.)
Mas também não é um punhado
de pétalas, nem é uma
impressão no barro. (Nem uma
promessa, uma desculpa, um esquecimento,
uma metamorfose, uma morte
nem uma ressurreição.)

É o poema que julgavas teu
e que nunca hás-de escrever.

- Ángel Crespo
in El bosque transparente, Seix Barral

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