sábado, dezembro 03, 2011

Dois velhos

Cada tarde o jardim para que a minha janela dá
recebe a visita de dois velhos
com os seus gestos reumáticos e pobres,
de peles enrugadas e translúcidas.
Pergunto-me
a que velocidade passam os seus dias,
o que discutem sem fé enquanto passeiam,
desde quando não bebem.

E é triste imaginar-me nos seus corpos pesados,
caducos para o amor.
Órfãos. Olorosos.

Com o que é que sonham os velhos?

Lentamente olham-se
com olhos de outra idade, a branco e preto
pulsam as suas memórias mal curadas;

e passeiam

como essas nuvens gordas do outono

que arrastam pelo céu a sua desídia

buscando algum motivo, uma ocasião, a desculpa

para se reinventarem.

- Rafael Espejo
in Para los años diez (7 poetas españoles), Hum

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