crescem os seus membros de veludo. Eu canto a noite,
e todavia sei que a minha voz
já não é pura. Sei
que lentamente se afogou em outra noite
dispersa na memória a que me entrego
de antigas coisas.
A noite afoga-me. Dispara
seu corrosivo veneno em minhas veias.
Eu sou a noite, eu canto a noite, eu vivo a noite.
Desce sobre mim, ó integral mansidão, quieto silêncio,
simples simplicidade do que é simples.
Eu canto a noite. Eu canto a morte.
Tenho a noite na garganta. Um toiro negro
dorme no meu coração atento. Algo desliza
sobre a superfície da mesa, do papel,
da garrafa. Algo desliza, vagarosamente,
sobre a minha pele. Sobre a cidade.
Sobre o mundo. A noite desliza
sobre si própria. Eu canto
a noite suavemente deslizante.
Sobre mim. Sobre as coisas. Sobre
uma nocturna humanidade.
Sobre o mundo.
- Manuel de Castro
Sem comentários:
Enviar um comentário