O critério é simples: traduções de poesia para português que tenho comigo e me são importantes. Ficaram, contudo, outras na estante e que bem poderiam estar na lista (acrescento aqui à pressa, numa última revisão, as versões de Sophia e Fiama da poesia de Dante e da Bíblia, respectivamente…). Há muitas traduções publicadas (sobretudo recentes) que queria ter e ainda não. Muito do elenco que se segue estará indisponível ou poderá ser apenas encontrado por tentativa e erro, de encontro em desencontro ou em lances de fidelidade e traição. Não faz mal, são estes outros nomes para tradução.
1. Rosa do Mundo-2001 poemas para o futuro - direcção de Manuel Hermínio Monteiro, Assírio & Alvim, 2001 [ao mesmo tempo precioso e inútil, extraordinário e vulgar, mas o mundo é exactamente assim].
2. Vozes da Poesia Europeia – I,II,III – traduções de David Mourão-Ferreira, Colóquio-Letras, nºs 163, 164, 165, 2003 [extraordinário panorama da poesia europeia, em tradução de poeta, que poderíamos colocar a par do projecto de Jorge de Sena Poesia de Vinte e Seis Séculos].
3. Matsuo Bashô, O Gosto Solitário do Orvalho – versões de Jorge de Sousa Braga, Assírio & Alvim, 1986 [para descentrar o olhar, ver de novo pela primeira vez].
4. Uma Antologia da Poesia Chinesa – por Gil de Carvalho, Assírio & Alvim, 1989 [a actualidade evidente de uma cultura milenar].
5. Dez Poetas Gregos Arcaicos – versão de Albano Martins, publicações Dom Quixote, 1991 [matrizes, a par do trabalho do mesmo tradutor/poeta O Essencial de Alceu e Safo, Imprensa Nacional- Casa da Moeda].
6. Os Sonetos de Shakespeare – tradução de Vasco Graça Moura, Bertrand, 2002 [de um grande tradutor- em lista adiada de compras, muitas outras das suas versões da poesia europeia].
7. Poesia Romântica Inglesa [Byron, Shelley, Keats] – tradução de Fernando Guimarães, Editorial Inova, 1977 [uma linha poética que me é cara, na tradução de um poeta dilecto].
8. Baudelaire, As Flores do Mal – tradução de Fernando Pinto do Amaral, Assírio & Alvim, 1992 [para ter a experiência, em directo, de um primeiro olhar definitivamente moderno].
9. Hölderlin, Elegias – tradução de Maria Teresa Dias Furtado, Assírio & Alvim, 1992 [raízes da poesia moderna: palavra e silêncio, razões do poético, a utopia através da escrita, como assinala a tradutora na sua introdução].
10. Georg Trakl, Outono Transfigurado – tradução de João Barrento, Assírio & Alvim, 1992 [poesia como travessia apocalíptica do eu e do mundo, beleza que não se distingue da dor, em versões de um excelente tradutor – ver também Celan ou H.M. Enzensberger, Mausoléu, na Cotovia, Ulla Hahn, A Sede Entre os Limites, na Relógio D’Água].
11. Rainer Maria Rilke, Poemas / As Elegias de Duino / Sonetos a Orpheu – tradução de Paulo Quintela, editorial O Oiro do Dia, 1983 [um trabalho pioneiro de divulgação de um poeta que, de alguma forma, se confunde com a própria face da poesia].
12. T.S.Eliot, Quarta-feira de Cinzas seguido de Os Homens Vazios – tradução de João Paulo Feliciano, Hiena Editora, 1985 [sim, faltam outras traduções indispensáveis, e que estão disponíveis, de Waste Land e Four Quartets].
13. Antologia de Vicente Aleixandre – tradução de José Bento, Editorial Inova, 1977 [um exemplo apenas de um extraordinário veio lírico hispânico, num tradutor / poeta que coincide com o nosso próprio olhar sobre a poesia espanhola].
14. Jorge Luís Borges, Poemas Escolhidos – tradução de Ruy Belo, publicações Dom Quixote, 1985 [reparo que já levei este livro para muito lado].
15. Paul Eluard, Algumas das Palavras – tradução de António Ramos Rosa e Luísa Neto Jorge, publicações Dom Quixote, 1977 [um encontro entre três poetas; poesia que é, ao mesmo tempo, lírica, tensa, real e transfiguradora].
16. Roberto Juarroz, Poesia Vertical – tradução de Arnaldo Saraiva, Campo das Letras, 1998 [poesia que olha o mundo de forma inesperada, num nó cego de “razão” e “coração”; Arnaldo Saraiva serve excelentemente esta escrita e poderíamos aqui lembrar também o seu Brecht, na Presença].
17. Joan Margarit, Casa da Misericórdia – tradução de Rita Custódio e Àlex Tarradellas, Ovni, 2009 [um livro que sabe revelar um poeta que se nos torna, a partir daí, indispensável].
18. Sylvia Plath, Pela Água – tradução de Maria de Lourdes Guimarães, Assírio & Alvim, 1990 [M. L. Guimarães é uma discreta e excelente tradutora do inglês; fica aqui, inteiro, o universo desta poesia onde se respira com dificuldade, embora a plenos pulmões].
19. Seamus Heaney, Antologia Poética – tradução de Vasco Graça Moura, Campo das Letras, 1998 [poesia pode ser secura no centro do coração, coisas cruas que ficam na mecânica, um pouco dura, das palavras].
20. Wallace Stevens, Antologia – tradução de Maria Andresen de Sousa, Relógio D’Água, 2005 [dificilmente se imagina melhor companhia para avançar por esta poesia que põe as questões mais centrais].
Post- scriptum:
- São-me também indispensáveis os pequenos livros que deram conta dos Seminários de Tradução Colectiva da iniciativa “Poetas em Mateus”, publicados pela Quetzal.
- Li muita tradução de poesia, da mais diversa proveniência, nas revistas Di Versos e, sobretudo, Hífen (coordenada por Inês Lourenço, 13 números entre 1987 e 1999 – ver http://cadernoshifen.blogspot.com/). Na Hífen destacam-se os números dedicados à “tradução” – nº5 e à “poesia hispânica” – nº9. Honro-me de ter modestamente colaborado na revista com trabalho de revisão de textos e assim pude percorrer essas traduções, no original e em português, sílaba a sílaba. São tradutores como José Bento, Eugénio de Andrade, Albano Martins, Ana Hatherly, João Barrento, Egito Gonçalves, António Ramos Rosa, Luís Miguel Nava, Maria de Lourdes Guimarães, Fernando Assis Pacheco, Amadeu Baptista, Mário Cláudio, Joaquim Manuel Magalhães, Fernando Pinto do Amaral, Vergílio Alberto Vieira.
- Hoje, ler tradução de poesia (para português e não só) é percorrer “blogues” que se tornaram questão pouco ociosa, como Do Trapézio, Sem Rede, Poesia & Lda. , Poesia Distribuída na Rua., Da Luz & da Sombra, Rua das Pretas, poesia [canal de poesia], Acontecimentos [António Cícero], Modo de Usar & Co., Outra Iglesia Es Imposible, Cómo Cantaba Mayo en La Noche de Enero, Faro Vacío, Zaidenwerg, Jesús Jiménez Domínguez, Poems Found in Translation.
*Nasceu no Porto, vive em Vila Nova de Gaia. Dois filhos. É professor no ensino secundário. Dedica-se, por exemplo, à poesia e à fotografia. Publicou em 2001 o livro As Súbitas Permanências pelas Quasi Edições. Mantém desde 2009 o blogue Súbito.
1 comentário:
obrigada pelas listas -- de livros
e de blogs!
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