Agrupadas em ideias, as palavras andam no ar, passam de homem em homem como parasitas, habitam no interior de cada um, absorvem toda a sua vida espiritual e transformam-na em nada: a ideia sai do seu homem sempre mais impessoal, mas dotada de um poder corrosivo cada vez maior. Saltam assim de homem para homem sem que nenhum deles participe na sua vida espiritual. Como o mais venenoso dos micróbios, «arrumam-nos» e depois atacam outros. Por vezes, espalham-se com a rapidez das epidemias e invadem os indivíduos em massa, mas estes, em vez de se sentirem doentes, ficam entusiasmados, exaltados, até dizem que têm ideias. Não vêem que não são os homens que possuem as ideias, mas as ideias que possuem os homens — dissimulados verdugos que se apresentam para dar um sentido à vida, e em vez disso a destroem. E o destruído vive com exaltação o seu próprio martírio; quando a ideia o abandona, sente-se vazio, aniquilado, pois ela devorou tudo quanto havia de vivo no seu espírito.
- Ernesto Sampaio
in O Sal Vertido, Hiena
domingo, setembro 25, 2011
Ideias
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