domingo, junho 12, 2011

-
Torci os dedos sob a manta escura...
"Por que tão pálida?" ele indaga.
- Porque eu o fiz beber tanta amargura
Que o deixei bêbado de mágoa.

Como esquecer? Ele saiu, sem reação,
A boca retorcida, em agonia...
Desci correndo, sem tocar no corrimão,
E o encontrei no portão, quando saía.

"É tudo brincadeira, por favor,
Não parta, eu morro se você se for."
E ele, com um sorriso frio, isento,
Me disse apenas: "Não fique ao relento."

- Anna Akhmátova
(tradução de Augusto de Campos)
in Poesia da Recusa, Perspectiva

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