Mexia-lhe no cabelo, nas pistolas, nas manias.
Tive de inventar o microscópio para não perder nenhum pormenor.
Tinha talento.
Carregava o horizonte só para lhe caber no olhar.
Ia dar tudo certo.
Afastava as chuvas com um gesto no mapa
e sentava-me ao seu lado. Tínhamos então
o nosso momento “Hiroshima mon amour” a jantar em família.
Visitávamos depois as arcas da poesia, as lavas do Edna,
o estilo de morrer de medo e acordar por delicadeza.
Herdei entretanto uma genealogia feita de decisões erradas.
Enfrentava todas as noites
esse gigante do minimalismo,
o pânico. Vinha buscar-me a horas fixas.
Levava-me até à beira da estrada.
Mexia-me no cabelo, nas manias.
Era urgente repor em circulação a nossa inocência.
Era preciso gostar sempre de Nini.
Era preciso dizer sempre que sim.
E repetia, encolhida:
Sim, Nini.
- Golgona Anghel
(inédito)
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