maquete de um gato,
brinquedo abandonado, trazido
da rua para casa:
o pêlo branco, hirto e cinzento,
desfaz-se até à raiz.
Vejo-lhe o focinho, a boca,
borracha esboroada, uma orelha
foi comida, o corpo magoado,
aos altos, como uma almofada
rota que espalhasse o estofo
numa toalha miserável. Sento-me
a ver a luz que se
degrada nos seus olhos.
Tenta e não consegue
subir a uma cadeira, refugia-se
a um canto da cozinha,
vexado, desnaturado. Já não é
nada que se pareça com um gato.
Um novo olhar
naqueles olhos
que se recusam a encarar os meus.
É a vergonha de ser
descoberto. Só isso.
E com essa
humilhação,
a sua cara, vejo,
tornou-se humana.
- Robin Robertson
(tradução de Hugo Pinto Santos)
in The Wrecking Light (2010)
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