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A singular viuvez desta mesa, pequena parao sol desafogado que estilhaça a janela,
encaminha-se o volúvel pensamento, neste
dia feriado, para o sítio dos amigos. Vivem
pela transformação, laboriosamente perseguida
à luz das velas, em profundos laboratórios.
Ociosos, indispensáveis, retirados, falam
da solubilidade dos destinos. A voz que me
dirigem reconduz-se às abstractas escarpas
da ilha que deixei, de tudo o que lá tinha.
Pintam para mim as paredes de azul. Permitem-
-me falar, telefonar, voar, beber. Aos filhos
dizem como foi complicada a minha vida. É
dentro da humidade (não falo dos amigos
se não chove) e da ternura, que também ela
tomba por doces cordas de água: então nomeiam
as várias solidões do descampado, o pólen
favorável da oferta, o lento almíscar que
aproxima os talheres, as cadeiras, o tecto
sobre que o fumo imprime países deslumbrantes.
Lá fora os arbustos obumbrados, à escuta
do poente, parados. O letreiro indesmentível
na porta fechada do bar. O sono passageiro
do mundo motorizado. As moscas. Amigos
munificentes, inexplicáveis, romanescos...
Merecer-vos-ei algum dia por uma audácia
que redima esta indiferença quase póstuma?
- José Sebag
in Cão Até Setembro
2 comentários:
olá diogo,
gostaria de saber onde encontraste este "cão até setembro", já que sou um interessado pela poesia surrealista portuguesa e o josé sebag pertenceu a essa segunda vaga do café gelo.
um abraço
Foi-me emprestado por um amigo.
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