terça-feira, janeiro 04, 2011

Alocução pagã

Porventura julgais vós que por crer
na imortalidade,
terá que ser-vos dada?
É obra da fé, do egoísmo
ou da desolação.
E se existe, não importa não ter nela acreditado:
respostas ignorantes são todas as humanas
se a morte interrogamos.

Continuai vossos ritos ostentosos, oferendas aos deuses
ou grandes monumentos funerários,
as cálidas preces, vossa esperança cega.
Ou aceitai o vazio que virá,
onde nem sequer soprará um vento estéril.
O que terá de vir será de todos,
pois não há merecimento no nascer
e nada justifica nossa morte.

- Francisco Brines
(tradução de José Bento)
in Antologia da poesia espanhola contemporânea, Assírio & Alvim

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