Sentir inveja, desprezo, pela irreflexão das coisas,
Encontrar o pathos em cães, ou numa caligrafia subdesenvolvida,
Em raparigas que arranjam o cabelo, todos os castelos de areia
Caídos por terra à hora de dormir das crianças, à beira-mar.
Vem a maré e some-se de novo; não quero
Sublinhar para sempre o seu fluxo, a sua permanência,
Não quero ser um coro trágico ou filosófico,
Quero apenas olhar de frente o futuro próximo
E antes disso deixar que o mar nos cubra.
Então, venham todos, aproximem-se, formem um círculo,
Dêem as mãos, façam de conta que, ao darem as mãos,
Mantêm ao largo os lobos da água
Que uivam junto à costa. E que se saiba
Que ninguém os ouve, por entre conversas e risos.
- Louis MacNeice
(tradução de Hugo Pinto Santos)
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