terça-feira, dezembro 07, 2010

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Há noite.
Há.
Mas não bastante
para me encontrar para lá do oceano
e das suas ruínas inconstantes
naufragadas aí,
já vegetais e ternas.
Há uma noite toda ela Espanha,
outra ilha de conchas,
pedacinhos,
mas em ambas detenho, ainda, pés
e os pés são a nossa languidez
de monos que a si mesmos se confiam.

Não há
(também não há)
manhã que nos recorde
a luz que nunca vimos nem veremos,
apenas o diáfano debique
dessa tuba atulhada de detritos
a que parece que se chama Sol.
Há as manhãs de serrubeca nova
e as alvoradas Índicas,
azues,
mas das duas não sobra quase nada
uma vez almoçada a fuça ao porco
que nos ulcera a fé, prendendo o ventre.

A tarde é outra coisa.
Não existe.
É entre sono e sono abandonada
sobre um manto de pálpebras, retalhos
do que foram dos outros as lentilhas,
miragens breves em crudes afogadas.
Há-as, é certo, dúbias ou roubadas:
ou malte o mosto, ou cama ou desafio,
jamais a longa tarde entronizada
em cem tambores de fogo na savana,
que ecoassem, perpétua maravilha,
os cardíacos pontos cardeais,
a excessiva mesura que eu queria.

- Miguel Martins

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