Os vinte e tal,
Quando desaparece a destreza,
E cada acontecimento,
Voltado para a seca,
É expedido com uma dúvida
Que se incrusta na raiz.
Julgava que este impulso imaculado
Por certo cessasse
Aos vinte e quatro, vinte cinco;
E agora as escórias
Do que ardeu na infância
provam que eu tinha razão.
O que incandesceu
Depressa se extinguiu em mim,
Como eu previra.
Talento, felicidade,
Estas coisas recuaram,
Dão lugar a uma colheita torpe,
Chegam a um termo;
Por certo desaparecidas,
Talvez o resto,
corroído, permaneça,
Como segunda escolha.
É lixo, o edifício ruído de minaretes.
E na cinza
Do que agradou e é passado
Não é mais do que
Uma trave de ganância, último
Sorriso carbonizado, enclavinhado ódio
Crustáceo, orgulho enegrecido — esses
De quem tanto fiz.
Se nunca mais pudesse
Voltar a alcançar
A pura posição despercebida,
Extenuaria
As propriedades erradas,
Viveria daquilo que é.
Mas é difícil escapar a esse mundo.
Já morto,
Perlado de putrefacção.
Já que eu, ludibriado,
Cavo na minha mente a mais funda das feridas:
Penso lembrar,
A qualquer momento, estados
Há muito dispersados.
Se o acaso dissipar
O melhor, o pior,
Pode propagar-se por um só toque.
Beijo, detenho,
Como estúpida mãe, a pútrida
Infância,
Que pode e vai impedir-me
Toda a vantagem, menos
Dicotomias desvalorizadas:
Nada, o paraíso.
- Philip Larkin
(tradução de Hugo Pinto Santos)
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